Seguidores

domingo, 14 de dezembro de 2008

O MENINO QUE NÃO QUERIA PENSAR

Era uma vez um menino que gostava de contar histórias. Não só histórias de contos de fadas, não só para crianças, ele gostava de contar histórias. De todos os tipos e para toda e qualquer pessoa.
Isso o fazia feliz e mais feliz ainda aqueles que ouviam ou liam as suas histórias. Ele encantava a todos. Ele tinha várias formas de fazer com que suas historias chegassem aos ouvidos das pessoas. Uma dessas formas era soprar ao vento bem de leve e esperar que ele levasse seus contos a todos os cantos do universo.
Ah! O vento sabia fazer isso como ninguém. Veloz e sutil ia a todos os lugares, do mais perto ao mais distante, fazia isso durante dias e noites até ficar fraco ou esquecer, quando voltava ao menino para buscar mais,pois o vento adorava ouvir e repetir tudo que o menino contava.
Um dia, o vento já quase esquecendo do que iria repetir encontrou uma menina muito sozinha e soprou ao seu ouvido um pedacinho da historia que ainda se lembrava. A menina que estava triste, logo se alegrou e com atenção ouviu até a última palavra. Mas o vento não lembrava de toda história e ela desapontada implorou ao vento que buscasse o resto da história.
Mas era preciso que ele voltasse no mesmo horário quando as estrelas e a lua vão bem altas no céu, já que esta menina só existia a noite, o sol a fazia quase não existir, ela ficava sem voz e invisível, para se proteger de vários perigos que tinha onde vivia.
O vento prometeu e voltou ao lugar onde o menino estava. Pediu ao menino que contasse o resto da história e ele contou, o vento viajou , levando consigo a historia e quando as estrelas e a Lua estavam altas no céu ele encontrou a menina e contou mais um pedacinho da história, porque como se tratava de um vento muito, muito velho, a memória já não funcionava tão bem e fez com que ele só se lembrasse de uma parte do que foi contar. A menina mais uma vez pediu para que ele retornasse contando o que faltava.
O vento foi e retornou várias vezes, sempre com um pedacinho pequenino de história, mas que dava tanta alegria que aos poucos ela estava perdendo o medo e deixando de ser invisível e muda, alguns seres já conseguiam até ouvi-la cantar.
Porém uma coisa muito triste aconteceu. O menino não contava as histórias somente pelo vento, ele também ia de encontro a quem queria ouvir e fazia isso com amor. Mas ao caminhar, ao conhecer outras pessoas, ao conhecer outras realidades e também a do seu povo, o menino pensava muito. Pensava em porque que o céu é azul, porque as abelhas fazem o mel, pensava porque algumas pessoas tinham tanto e outras nada, porque que existiam doenças, injustiças, pessoas más, porque as pessoas não entendiam a importância do que ele realizava, porque tantas pessoas podiam fazer muitas coisas para ajudar e não faziam e começou a ficar triste.
Ele ficou tão triste que parou de contar historias, e mais triste ficou o mundo sem as tuas historias e mais triste ficou a menina que começou a desaparecer de novo...
O menino percebeu então que as pessoas que não pensavam eram mais felizes e tomou uma solução muito séria: decidiu então que a partir daquele momento não pensaria mais. Todos aqueles a sua volta que não entendiam o significado de suas histórias ficaram muito felizes, ele largaria aquela vida de sonhos e consciência para viver igual a todos: rindo de tudo, inertes, vazios, sem idéias, como zumbis, vivendo sem direção, sem questionamentos mais sem sentir a verdadeira essência da vida. E tudo na vida do menino foi ficando sem brilho sem cor.
Enquanto isso do outro lado do mundo a menina que vivia na escuridão e tinha através das histórias animo para enfrentar a luz cada dia mais entristecia e começava já a desaparecer, foi quando um dia o vento com muita dó dela, disse a verdade, que o menino já não contava história porque não pensava mais. Ela chorou, chorou muito e suas lÁgrimas se transformaram em cristais muito grandes, ela pegou os cristais e disse ao vento:
Vento está vendo estes cristais? Por favor, se gostas do menino com a sua força transforme estes cristais que já foram lágrimas em uma grande lente e dê ao menino para que possa ver o mundo com os olhos de quem pensa e volte a pensar, e volte a viver de verdade com todas as dores e alegrias de uma vida verdadeira, para que volte a compartilhar com o mundo a alegria de sua verdadeira essência.
Dito isso o vento obedeceu e com a sua força transformou os cristais em uma grande lente, viajou o mundo e entregou as lentes ao menino dizendo:
Coloca em teus olhos, uma pessoa que te admira mandou de presente para você.
O menino que não mais pensava, e fazia as coisas por fazer, colocou sem pensar, sem nada perguntar, e como num passe de mágica, o menino voltou a ver um mundo colorido, viu todas as coisas ruins que acontecem, as guerras, todos que choram, todos que erram, que abandonam, que fingem que não sabem de nada, os que caluniam, os que padecem de doenças e fome, contudo viu também a lagarta se transformar em borboleta, a flor nascer, uma criança sorrir, um homem pobre dividir o pouco que tinha, uma mãe cuidar com tanto amor de seus filhos, o sol brilhar, um pai alimentar seus filhos com a colheita que lhe custou o suor de todo dia, e o céu de estrelas com a lua cheia.
O menino sorriu e percebeu que precisava pensar, não podia fugir dos pensamentos, eles eram importantes, eles que faziam com que ele fosse especial, os pensamentos ajudavam a ele encontrar suas histórias e fazer tantas pessoas, ainda que por um breve espaço de tempo feliz. O menino muito valente decidiu isso e indo contra muitas coisas bravamente continuou a pensar. Pensando ele lembrou de perguntar: Vento quem me mandou as lentes?
O vento respondeu: Uma pessoa que você faz muito feliz. toda vez que a lua no céu aparecer me conte uma historia e eu levarei e entregarei o que a fará muito feliz. Olhe as estrelas no céu ela com tuas histórias terá tanta alegria, que essa alegria se transformará em luz, em estrela.
E assim o vento seguiu tendo muito, muito trabalho...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Que bom que deixou a sua opinião, volte depois que te respondo aqui mesmo. Beijão